BARBARIDADE
Garota violentada saía do presídio para vender drogas e comprar bebidas.
Em breve entrevista concedida à reportagem de O LIBERAL, a adolescente falou sobre o contato com a suposta aliciadora "Anne", a convivência com os detentos da Colônia Agrícola Heleno Fragoso, as impressões daquele lugar e as adolescentes que ficaram na casa penal após a sua fuga, na madrugada de sábado (17). A jovem revelou ainda que foi obrigada a vender drogas sob os olhares atentos dos detentos. A entrevista foi concedida - em um curto espaço de tempo - no Conselho Tutelar, situado na travessa Tavares Bastos, no momento em que ela se deslocava, junto com o conselheiro tutelar Benilson Silva, do CPC Renato Chaves para o Pró-Paz, na Santa Casa. Confira abaixo:
Como a Anne aliciou você? Qual a justificativa que ela deu? E o que foi prometido?
Primeiro, ela não me prometeu nada. Ela disse que lá (às proximidades da Colônia Agrícola Heleno Fragoso) era tipo um acampamento, que as pessoas iam só para se divertir, brincar e que, no outro dia, eles vinham embora. Acreditei e fui com ela. Chegando lá, eu não vi nada disso. Vi um monte de coisa jogada pelo chão, tipo, garrafas de bebidas alcoólicas. Ela ligou para um rapaz buscar a gente. Ele foi lá buscar a gente e ficamos no igarapé. A gente dormiu lá. Quando foi no outro dia, eu acordei, ele me deu o dinheiro da minha passagem e fui embora, mas ela foi comigo...
Você não desconfiou de nada em algum momento?
Não. Logo no primeiro dia não. Só fui desconfiar quando eu fui para lá, já era a segunda vez, que fiquei lá os quatro dias.
Quando você chegou à Colônia Agrícola Heleno Fragoso?
Foi na terça(-feira). Saí de lá na sexta-feira, que foi quando eu consegui fugir, de madrugada, cinco horas da manhã.
Isso já no sábado?
Isso, de sexta-feira para sábado.
Os detentos prenderam você e não a deixaram sair?
Não, não deixaram a gente sair de lá. Só saía se fosse para comprar bebida para eles, entendeu? Ou então a gente saía sete horas da manhã, a gente ficava no igarapé. Eles voltaram para lá meio-dia, que eles iam levar almoço para a gente e voltavam para chamar. Quando davam sete horas da noite, eles iam buscar a gente para lá. E lá começava...
Qual foi o tratamento que eles deram a você? O que eles fizeram contigo?
Tratamento de bom, nada. Só coisa ruim. Eles me abusaram, me violetaram - mais de cinco-, me forçaram a usar droga, a tomar bebidas alcoólicas. Coisas que eu nunca fiz. E lá também eu saía para vender drogas no mato. Eu pegava com o Vitor (detento) e saía para vendar com outros meninos. E quando acabava....
Alguém fiscalizava?
Eles iam junto comigo também. Porque lá era assim... (O Vitor) é quem dava a droga para a gente vender para outros rapazes de lá.
Foi fácil entrar na Colônia Agrícola?
Foi, foi fácil. Tem um caminho que eu sei muito bem por onde eu fui até chegar na Colônia. É até fácil para levar vocês.
Como você se sente agora?
Como já falei, sempre quando toco nesse assunto, eu sinto assim um trauma, pensando naquilo... Só de pensar também, que a minha mãe..., que estou fugida de casa desde o mês de junho...
Por quê?
Por causa de muita implicância com a minha mãe. Para evitar... Eu também já fui abusada sexualmente pelo meu bisavô, com cinco anos de idade. Então, para evitar preferi fugir de casa.
Onde você estava morando após fugir de casa?
Em Outeiro (distrito de Belém), com o meu namorado. Só que a gente se deixou no final do mês de agosto.
Ele tem quantos anos?
(Risos) Agora, no dia 19 de setembro, ele completou 25 anos.
Em algum momento, logo quando saiu de casa, você foi explorada sexualmente? Ou alguém te aliciou?
Não. Só dessa vez que fui para lá com a Anne.
E o Rosivaldo (detento), o Faísca? Onde você o conheceu?
Conheci lá na Colônia.
Mas você falou com ele por telefone, antes de ir para a Colônia?
Falei com ele por telefone. A Anne ligou para ele e me deu o celular para ficar conversando com ele. Aí ficava só conversando com ele por telefone. Ele pedia, por exemplo, para eu ir para lá com ele... Ele disse que nada de ruim ia acontecer... Então se ele gostasse de mim, ele não tinha abusado de mim e não tinha me violentado também.
Como era o presídio?
Muito feio. Lá era um inferno. Muitos horrores aconteceram...
Ninguém viu você entrando na Colônia?
Não.
E as outras adolescentes?
As minhas outras colegas ficaram lá. Isso se não já mataram elas, porque foi muito triste isso.
Fonte: ORM/Oliberal
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