A dura vida de quem flerta com a morte

Ameaças

Quem luta contra o crime tem jornada dupla: mesmo sob pressão, ficar em paz

DILSON PIMENTEL

Da Redação

Em um restaurante, o delegado Éder Mauro senta-se sempre de frente para sua esposa. A cena, que lembra uma romântica troca de olhares entre um casal apaixonado, é, na verdade, uma medida de proteção. Posicionados dessa forma, ele pode olhar o que ocorre em volta dela, enquanto ela observa qualquer movimentação próxima a ele. Assim, ambos ficam atentos a qualquer pessoa que, em atitude suspeita, aproxima-se do policial civil. Depois que passou a ter a cabeça a prêmio, por prender traficantes e apreender a droga comercializada por eles, o delegado mudou sua rotina. E a esposa dele também. Por causa dessa nova realidade, ela, que é advogada, aprendeu a atirar e a dirigir de forma defensiva, para, se necessário e em caso de um ataque, sair com o carro rapidamente, mesmo que seja de marcha a ré.

Éder Mauro integra um grupo de profissionais que, por combater o crime e os criminosos, passou a ser alvo constante dos bandidos. E, por isso, vivem sobressaltados, em alerta permanente e tiveram que mudar seus hábitos. Mesmo quando faz suas caminhadas, Éder Mauro, diretor da Divisão de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR), é sempre acompanhado, de perto, pela inseparável pistola. Com quase 27 anos de profissão, Éder Mauro diz que há 15 vem recebendo ameaças de mortes. Mas estas se tornaram bem mais intensas depois que ele, há dois anos, comandou ações que resultaram no "estouro" de seis laboratórios de refino de cocaína no bairro da Cabanagem, área então sob o comando do traficante Jocicley Braga Moura (Dote), que foi preso em duas ocasiões diferentes e, nos dois casos, ganhou liberdade concedida pela Justiça. Éder e sua equipe também trocaram tiros com "soldados" do tráfico, que morreram.

À época, a Polícia descobriu um plano para eliminar o policial civil. Os bandidos haviam registrado, com fotos, a rotina do delegado, inclusive as caminhadas que, até então, ele fazia na rodovia Augusto Montenegro. Em um primeiro momento, os comentários indicavam que a morte de Éder custaria, aos traficantes, R$ 100 mil. Depois, esse valor aumentou para R$ 300 mil. Atualmente, não se fala mais em valores. Mas as ameaças continuam.

O delegado conta que praticamente toda semana chega uma nova informação relacionada a essas ameaças. As notícias partem de informantes da polícia ou chegam ao núcleo de inteligência da instituição. Às vezes, as informações indicam que há bandidos de fora do Pará que vieram à capital paraense com a intenção de "fazer" (matar) o delegado. Éder Mauro leva a sério as denúncias. Ele já sofreu dois atentados. O primeiro há cinco anos, na Cidade Nova. O policial e a esposa estavam no carro. Os bandidos chegaram atirando. Ela foi baleada na perna. O policial reagiu. Um dos bandidos morreu.

No final do ano passado, a segunda investida dos criminosos. Éder Mauro e a esposa pararam o carro em um posto de gasolina, na Rodovia Augusto Montenegro. Dois homens em uma motocicleta aproximaram-se do veículo. Sempre atento a tudo em volta, o polícial avisou a mulher e saiu do carro de pistola em punho.

"Eles vieram pra cima, Eu sai do carro e também fui para cima deles", conta. Houve troca de tiros. A dupla fugiu. Os dois atentados foram orquestrados por traficantes, segundo apontaram as investigações.

OPÇÃO

No início de 2010, a Secretária de Estado de Segurança Pública determinou que, nos finais de semana, dois policiais fizessem a segurança do delegado. A proteção durou um mês - Éder Mauro não quis ser mais acompanhado pelos policiais. "É um negócio chato. Você não se sente à vontade, não se sente livre", diz. Sem essa segurança, ele diz que, em primeiro lugar, confia em Deus e, depois no armamento que usa. "Só peço a Deus para não ser surpreendido, para que não me peguem à traição, para que eu possa me defender e reagir", afirma.

Por causa das ameaças, o delegado tem evitado andar de moto algo que ele sempre gostou de fazer, e, nos restaurantes, senta-se sempre de frente para sua esposa. Muitas vezes, algum amigo se oferece para, nessas ocasiões, "vigiá-los", mas ele prefere que isso seja feito por sua companheira, que, diz, já tem experiência no assunto: "Outra pessoa não terá a percepção para saber se o cara está vindo com maldade ou não". O delegado já mostrou à esposa, por exemplo, filmagens da atuação de bandidos - como eles se comportam antes de entrar em ação e as roupas que usam para disfarçar a arma na cintura que têm.

Mesmo asim, e caso seja atacado, Éder Mauro já orientou sua mulher a fugir imediatamente e procurar proteção. O delegado prefere freqüentar restaurantes conhecidos e onde não haja muito movimento e que lhe permita ter visão de todo o ambiente. Não vai a festa e, embora goste muito de futebol, só pratica o esporte em locais fechados - em clubes. Éder Mauro sempre anda com sua pistola e dois carregadores com munições. "Levo a arma até para o banheiro", diz. Ele sabe de caso de pessoas que foram mortas no banheiro, de onde não tinham mais por onde sair em buscar de proteção.

Por causa dessa rotina alguns amigos pararam de andar com ele, com medo de, pela proximidade física, também ser alvo de atentado. Apesar de tudo, o delegado não desiste do combate ao crime. Primeiro, afirma, porque gosta muito de ser policial. Segundo, porque vê, em seu trabalho, a oportunidade de corrigir injustiças, prender bandidos e, principalmente, combater o que ele define com uma da smaiores pragas da atualidade: o tráfico de drogas.


Fonte: ORM/Oliberal
www.acaiazedo.blogspot.com

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2 comentários :

  1. Eder Mauro grande homem ,um delegado pelo qual eu admiro muito,nele eu boto fé ,continue sempre assim ,esse guerreiro em buscar do melhor pra sociedade, que Deus lhe abençóe sempre e que lhe proteja sempre,..um grande abraço de Simony N.

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  2. Muito bom Sambora Williams.

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