Rios do Pará na rota do tráfico

Cocaína entra no Pará pelos rios do Amazonas

No dia 23 de junho deste ano, a ONU divulgou através da Agência das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes (UNODC) um relatório no qual o Brasil figura como um dos grandes centros de consumo e distribuição de cocaína. Só para se ter uma ideia, um terço da cocaína cultivada na América do Sul (principalmente na Colômbia, Peru e Bolívia) é destinada ao mercado brasileiro.


Além disso, o país foi apontado como o mais utilizado por traficantes para transportar a cocaína produzida na América do Sul para a Europa. Em 2005, foram 25 carregamentos apreendidos no continente europeu, contra 260 em 2009. Todas haviam percorrido território brasileiro. O Brasil também aparece como principal fornecedor de cocaína para a África.

Segundo maior estado do país em extensão territorial e localizado na região amazônica, que faz fronteira com os países que concentram a maioria das áreas de plantio de coca, o Pará está incluído neste contexto.

O DIÁRIO entrevistou o delegado Hennison Jacob, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), da Polícia Civil do Pará sobre o movimento do tráfico na região.

De acordo com a autoridade policial, o Pará é uma das principais rotas da cocaína transportada para a Europa. “A estatística que se aplica para o Brasil (no que diz respeito à rota), pode ser aplicada ao Pará”, assegurou.

O delegado observa que a grandiosidade do território e a posição geográfica são fatores determinantes. “O Brasil por fazer fronteira com esses países. E o Pará por ser vizinho do Amazonas, Acre e Mato Grosso”.

Cocaína entra no Pará pelos rios do Amazonas

Apesar de o relatório indicar que grande parte das apreensões de drogas ocorridas em território brasileiro, entre 2004 e 2009, terem sido interceptadas em aviões, o delegado afirma que a maioria da cocaína que chega ao Pará é transportada em embarcações, especialmente pelo estado do Amazonas.

“Cerca de 90% da cocaína que entra aqui vem da Colômbia pelo município de Tabatinga, no Amazonas”, diz o delegado Hennison Jacob ao acrescentar que a droga passa pelos municípios de Benjamim Constant, Manacapuru e Manaus, no Amazonas, até chegar a Santarém, no oeste do Pará.

Depois, segue por Monte Alegre e desce pelo rio Amazonas para desembarcar às proximidades de Belém. “Quando não vem em grandes embarcações, a cocaína é transportada em pequenas ‘rabetas’, geralmente à noite e durante as cheias dos rios”, comentou ao esclarecer que a época de cheia facilita o acesso a vários canais que evitam a fiscalização.

Este detalhe mencionado pelo delegado é uma referência à região do Baixo Amazonas, área de fronteira entre o Pará e o Amazonas. Às proximidades do município de Óbidos, grande parte da mercadoria (drogas) é repassada para as pequenas embarcações, que aproveitam a cheia do rio Amazonas para percorrer alguns furos e fugir dos fiscais.

Reprimir apenas não basta. Prevenção é a saída

Outra rota da cocaína citada pelo delegado é a que ingressa no país pelos estados do Acre e Mato Grosso, oriundas do Peru e Bolívia, respectivamente. Pelo Acre, a droga entra pelo município de Cruzeiro do Sul, passa por Rio Branco (Acre), Porto Velho (Rondônia) e se infiltra no Pará pela região sudoeste até chegar a Itaituba. De lá, a droga é transportada pela Transamazônica.

“A droga é colocada por dentro dos pneus de socorro ou, às vezes, em fundos falsos dos veículos”, destacou o delegado. Ele também frisa que uma parcela da cocaína chega pelo extremo sul do estado, através dos municípios de Santa Maria das Barreiras, Redenção e Conceição do Araguaia, provenientes da Bolívia e introduzidas pelos municípios de Pontes Lacerda e Corumbá, no Mato Grosso. Outra rota utilizada é a rodovia Belém/Brasília, mas com menor frequência.

FISCALIZAÇÃO

O delegado reconhece que as dificuldades são enormes para a Polícia Federal e as policias Civil e Militar do Pará fiscalizarem uma área de fronteira tão extensa, além das peculiaridades que o território apresenta (rios, por exemplo). Hennison Jacob ressalta uma perda importante: há dois anos, a Base Candiru, da Polícia e Receita Federal, que ficava instalada no município de Óbidos, no oeste paraense, foi desativada por falta de manutenção que inviabilizou o funcionamento.

MEDIDAS

Mas segundo o delegado, as esperanças se renovam com a perspectiva de implantação de uma Base do PFRON- Polícia de Fronteira- no município de Breves, na ilha do Marajó. Outro fator crucial, conforme Hennison, seria uma política do Governo Federal voltada aos países vizinhos, de modo que seja exigida mais fiscalização dos governos locais.

O delegado enfatiza qual medida poderia amenizar o problema do tráfico de drogas. “Não basta querer só reprimir, tem que investir em prevenção”. Segundo o delegado, são necessários investimentos em educação e tratamento de viciados em drogas, bem como na construção de centros de recuperação. “Essas duas frentes são as mais importantes, principalmente educação”, avaliou Hennison Jacob.

DESTINO

De acordo com o delegado Hennison Jacob, grande parte da cocaína que passa pelo Pará e vai para a Europa é transportada em forma de pó, enquanto que o restante da substância que permanece no estado fica como pasta base de cocaína e, em seguida, é transformada em crack e óxi.

APREENSÕES

Em 2004, foram apreendidas 8 toneladas de cocaína no Brasil. Em 2009, a quantidade saltou para 24 toneladas, sendo 1,6 toneladas interceptadas em aviões. Nas Américas, o Brasil registrou a maior apreensão de crack: 374 kg. Dados atuais ainda estão sendo levantados pela Agência das Nações Unidas Contra Drogas e Crime - UNODC.     Fonte:Diario do Pará


Publicado por Folha do Progresso

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